quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Me sinto só, me sinto só... ♪



De uns dias pra cá tenho me sentido muito só. Não é algo que eu possa controlar. É um sentimento irracional. ele me aflige quando estou com fome, e quando estou comendo. Me aflige quando estou feliz e quando estou triste. As vezes me aflige quando estou no meio de várias pessoas...

É um sentimento incômodo, que fica ali parado, não é como uma dor, mas não da para ignorá-lo, ele me aperta o peito, me aperta o estômago e as vezes posso senti-lo rondando até minha mão.

As vezes ele me faz clamar por um abraço, e alguns abraços me fazem esquecê-lo por algum tempo, mas não muito, logo ele está lá. Ele vem de dentro pra fora e as vezes parece que vai rasgar meu abdômen e saltar pra fora.

As vezes ele me vêm aos olhos e me faz lacrimejar, as vezes eu choro, mas as vezes eu seguro o choro, por vergonha de alguém, ou as vezes de mim mesmo. E é quando ele me vem aos olhos que eu quase posso vê-lo. E vendo-o eu percebo que estar em meio a uma multidão não vai detê-lo, por que ele tem uma fonte de energia própria.

Não é falta de companhia, é falta de alguém. Não é falta de conversar, é falta de uma prosa específica, de um jeito de falar, de uma língua presa que me fazia rir por dentro, de uma voz enjoada e risonha que falava e não parava como se estivesse discursando para uma plateia, mesmo que ninguém estivesse realmente prestando atenção; é falta daquela risada exagerada, daquele jeito fanfarrão e exibicionista, daquele olhar de ressaca quase indecifrável, mas que pra mim era transparente, quase tão transparente quanto os cílios ruivos que lhe enfeitavam as pestanas...É falta do pedaço do meu coração que ficou preso no dele...

domingo, 23 de dezembro de 2012

Caos Mental #2



Normalmente eu sou do tipo que leva tudo a ferro e fogo, nunca desisto de nada em nenhuma circunstância, mas ultimamente tudo parece tão... vazio.

Vazio de razão, vazio de importância, vazio de significado, tudo cinzento como antes de Dorothy chegar à Terra de Oz.

As vezes sinto vontade de simplesmente seguir pra um lugar diferente, um campo, ou uma praia, um destino exótico quem sabe, preferencialmente um lugar histórico, artístico... Um lugar que não houvesse conhecidos, um lugar que não houvesse imagens a se manter ou cobranças a cumprir.

Chegar lá e dizer que meu nome é Serafim, ou Alexandre, talvez Marco Antonio... Algo diferente, que me dissesse algo, que tivesse algum significado.

Conhecer pessoas deste lugar, seja ele qual for. Escutá-las, interpretá-las e entendê-las. Elas não esperariam algo de mim, e nem eu delas, logo não haveriam grandes decepções.

Sei lá, é uma vontade esquisita de começar tudo de novo, de um jeito novo, e com um pouco de sorte obter resultados inteiramente novos.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Devaneios Eróticos - I



Ri suavemente, e o som fez-se soar em meios aos ruídos que vinham de nossos lábios unidos, não era uma risada exatamente diferente de nenhuma anterior, porém existia uma leveza e uma sinceridade tão genuína que a tornava mais bela do que qualquer uma outra.

Junto dela veio o halito quente que ele exalava em cima de mim. Nossos rostos tão próximos que pude sentir seu cheiro, seu gosto, mas ainda não era o bastante, não era próximo o bastante, precisava de mais, mais força, mais intensidade, mais calor, mais... Ele. 

Senti minhas pernas ao redor de seu corpo, deslizando suavemente, subindo pela coxa até sua cintura, e dali descendo de novo, num ritmo gradual, mas inconstante. Abri os olhos e pude observar o caminho que meus dedos percorriam, descendo dos ombros até suas costas. Deslizando por cada nuance de seu corpo magro e de uma brancura marmórea, cada detalhe dele agora exaltado numa beleza inexplicável.

Tive minha contemplação abruptamente interrompida por um beijo intenso e desconcertante, nossas línguas dançavam enquanto nossos corpos se comprimiam um contra o outro, ansiando pela união, num desejo maior que nós dois, um desejo primitivo e avassalador. 

Suas mãos pegaram as minhas e prenderam contra a cama, num gesto de dominação insanamente excitante, abri os olhos novamente e vi nossas mãos entrelaçadas, pele branca contra pele negra, tão contrastante quanto complementar. Essa visão me fez perceber o quanto ele estava próximo a mim e por alguns momentos não havia nada além de nós, nada mais era importante, nada mais sequer existia, só havia eu e ele num universo criado por mim mesmo, corpo contra corpo, mão contra mão, língua contra língua e a felicidade me invadiu de forma tão intensa que ri novamente.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Desfaz


"Enquanto você está longe,
Meu coração se desfaz
Lentamente desfia
Em uma bola de fios
O diabo a pega
Com sorriso malicioso
Nosso amor
Em uma bola de fios

Ele nunca devolverá

Então quando você voltar
Nós teremos que fazer um novo amor

Ele nunca devolverá

Então quando você voltar
Nós teremos que fazer um novo amor

Enquanto você está longe,
Meu coração se desfaz
Lentamente desfia
Em uma bola de fios
O diabo a pega
Com sorriso malicioso
Nosso amor
Em uma bola de fios

Ele nunca devolverá

Então quando você voltar
Nós teremos que fazer um novo amor

Ele nunca devolverá

Então quando você voltar
Nós teremos que fazer um novo amor

Ele nunca devolverá

Então quando você voltar
Nós teremos que fazer um novo amor"

sábado, 24 de novembro de 2012

Devaneios Apaixonados III - Vale a pena?



Vale a pena "correr atrás" de alguém? Vale a pena tentar conquistar uma pessoa que constantemente parece não se importar?

Tais perguntas me vêm rondando a mente, e mesmo quando eu penso ter achado as respostas para elas é questão de tempo até que elas voltem a me assolar.

Se analisarmos logicamente são perguntas que envolvem demasiada complexidade, situações quase paradoxais. Afinal qualquer pessoa apaixonada responderia "sim", para ambas, seria obviamente difícil para a pessoa enxergar com razão,  uma vez que estaria completamente atordoada por suas próprias emoções.

É como se a pessoa estivesse vendada, cega por algo que lhe desfoca as vistas, no entanto a unica chave para libertar-se de tal venda seria enxergar claramente novamente! É algo desesperador.

Saber da complexidade da questão não a responde, mas nos da mais base para entendermos o terreno incerto em que estamos pisando, não é algo fácil para ninguém, todos, cedo ou tarde, acabam sendo flechados por Eros, e sendo escravos do desejo, da paixão, e isso tira o chão de qualquer um, todos acabam vendados de alguma maneira.

É difícil lidar racionalmente com questões emocionais, e costuma ser até inútil, a unica maneira de responder essas questões é entrar em contato consigo mesmo, e encontrar o ponto mais harmônico entre esse dois pontos que se anulam, a razão e a emoção.

Para mim, romântico incorrigível, sempre vale a pena lutar pelas questões do coração, admito que isso não vem dando muito certo pra mim, mas a felicidade do amor correspondido é tão intensa que não poderia ser dada gratuitamente, a paixão, o amor, o carinho, o cuidado entre duas pessoas é algo que vale a pena, e deste modo, lutar por isso também.



terça-feira, 30 de outubro de 2012

Caos Mental #1



E volta e meia vem aquele sentimento de confusão, como se nossa mente repentinamente derrubasse os compartimentos e as barreiras dos pensamentos e começasse a liberá-los, todos de uma unica vez.

Tristezas passadas, tristezas atuais, raivas, mágoas, rancores, decepções... Tudo brotando e se espremendo em sua mente, lutando por mais espaço. 

E intuitivamente pode-se notar que só vale a pena esperar... Até que algo volte a fazer sentido novamente.

sábado, 27 de outubro de 2012

Sobre essa coisa toda de estar apaixonado...



Eu costumava lidar muito bem com essa coisa toda de estar apaixonado, mesmo da primeira vez (me lembro como se fosse ontem), mesmo quando tudo era desconhecido. Havia em mim uma confiança ingênua, quase infantil, de que tudo ia funcionar perfeitamente, seguindo algum tipo de ordem superior, um engenho perfeito onde cedo ou tarde tudo daria certo.

Essa confiança se manifestava numa certeza muda de que meu objeto de afeição era um grande herói, talvez ele entraria voando pela minha janela, a qualquer momento, me resgatando de um perigo que nem eu mesmo  sabia correr. Era como se cada palavra dita por ele fosse vinda do mais sábio dos homens, não importa quão idiota fosse, e olha que, analisando agora, o que mais saia dali era idiotice!

Na minha mente planejava cada palavra, rodava um script na minha cabeça, e na ausência dele, punha palavras em sua boca, ainda que estas nunca fossem ditas.

Na verdade, tudo isso era muito bom, tornava minha vida mais  leve, de um jeito único. A sensação de liberdade e adrenalina proporcionada por pular de paraquedas, a sensação quase orgásmica de uma montanha-russa.

Mas após tantas decepções e recuperações com este e outros objetos de afeição, após tanta esperança, tudo isso se foi, e, contudo, continua aqui.

Apaixono-me, e retomo esses sentimentos. Ainda consigo enxergar um herói, onde outros não vêem, aquele que faz de tudo para salvar até mesmo roedorezinhos indefesos, e para muitos insignificante, ainda me pego pensando em nossas conversas sem importância como se fossem altas discussões filosóficas, ainda planejo as falas, minhas e suas, e de qualquer um que possa estar por perto também...

Mas não há confiança, não há certeza de nada. Só há o medo, de que tudo dê errado, de novas decepções, é como se as forças invisíveis que antes me davam suporte agora se voltassem contra mim, esperando a melhor oportunidade para me sabotar. E quase posso sentir a dor que virá, quase posso vê-la espreitando, sorrindo maliciosamente, bafejando ao meu redor... E em meio a tudo isso, ainda tenho esperança.






segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A Paisagem de Mariana



Chuva. Era tudo que se podia ver através da janela do quarto de Mariana. Isso já se sucedia a algum tempo, na verdade, a mesma chuva fina e incessante, como restos de lágrimas de um sofrimento abatido. 

Na verdade isso dizia muito sobre o humor da pobre menina que se sentava a observar a paisagem vazia. 

Vazia, um detalhe que a descrevia, assim como na rua molhada não passava nenhuma pessoa, nenhum ponto onde se pudesse encontrar um calor de alegria, também em Mariana não se passava nenhum sopro, nenhum calor, nenhum ânimo.

A brisa gélida que entrava pela janela penetrava na menina frágil, como se pudesse alcançar sua alma, na verdade, talvez conseguisse...

Por muito tempo ela ficou inerte, enquanto na janela a paisagem cíclica se mantinha. Nem as nuvens pareciam se mover, como se preferissem se desfazer em aguá líquida de uma vez, sem dó.

Seus lábios e pontas dos dedos já estavam congelando, mas ela não se movia para mudar isso, talvez porque não queria, talvez porque não podia... 

E pela janela mesmo apareceu, talvez após três horas, talvez após três dias, quem diria, Uma borboleta vermelha a assustou! 

Passou serelepe pela chuva, como se deliciando em cada gota, aproveitando a solidão, sentido o frescor. E Mariana riu da borboleta que quase parecia sorrir, ou realmente sorria...

E por instantes a chuva não abatia, o vazio não amedrontava e a brisa não doía.

E Mariana olhou para dentro do quarto e viu calor, mesmo que o calor não se veja... E teve vontade de se arrumar, e teve vontade de viver. 

C.W

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Não vá...



Eu tive de fazer isso.
Eu tive de escrever um texto bobo sobre como me sentia, seria muito sufocante manter isso.
De alguma forma, espero, que isso me deixe mais leve, mais livre.
Ainda que pareça romântico demais, bobo demais, foi assim que você, em tão pouco tempo, me fez sentir.
Queria eu que nada tivesse mudado, mas as coisas mudaram. No fim, eu posso apenas ter esperanças, esperanças de que você não vá, de que me de a chance de fazer-lhe sentir como você me fez.


"Eu reclamei, eu implorei, eu pedi-lhe para não ir" - Lykke Li

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Devaneios Apaixonados - Seguindo Através de Peixes...



Vazio. É difícil, pra mim, explicar essa sensação, e ela que me acomete num momento. Ela é bastante complicada, mas imagino que, como tudo, sirva pra um aprendizado etéreo qualquer...

Eu não sinto a tristeza, não como antes, no entanto, também não sinto nada, ou talvez sinta algo que não consiga identificar. 

É como estar no topo de uma montanha, avistando apenas a natureza, a vida, a felicidade, mas incapaz de ser parte disso. É como olhar tudo através de um véu imperceptível, mas inviolável. É a solidão que se manifesta em meio a multidão.

É como flutuar no espaço sem objetivo, nem os corpos mais massivos apresentam atração relevante. É possível ver as estrelas, as explosões, as colisões, tudo com a intensidade rotineira das galáxias, mas sem intensidade alguma dentro de si.

As palavras que me atiraram nesse estado ainda ecoam em minha mente, vazias, como se nada representassem, mas instintivamente sei que representam tudo, e quando tomo consciência desse "tudo" elas se tornam cortantes como navalha. Significados e possibilidades demais, complicados demais, para uma frase de oito palavras, ditas tão displicentemente. 

Esse momento onde tudo é possível e nada é certo, um momento tão pisciano, tão simples e tão irritante, sim... essa indecifrabilidade é absolutamente irritante, e inquietante, mas talvez essa possa ser considerada a perspectiva do fim da inércia... Talvez. Afinal, depois de peixes sempre vem Áries e algo novo tem que começar, para abrir finalmente as portas por onde, no futuro, virá Leão, onde os objetivos, enfim tomaram forma certa. Até lá o escorpiano aqui fica vagando e extraindo tudo que conseguir deste porão sujo, onde pode haver tudo, se olharmos através da bagunça que se apresenta, mas para isso terei de arrancar o véu, e achar novamente a intensidade dentro de mim...

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Devaneios Apaixonados - O que farei...


Dia desses em meio aos meus devaneios diário no ônibus percebi que não sei o que farei se finalmente conseguir te conquistar. Quero dizer, eu posso pensar em várias coisas que sonho em fazer contigo, mas seria um momento de tanta felicidade que eu não duvidaria se simplesmente começasse a rir ou dançar ou pular, quem sabe...

Eu te beijaria em seguida, exatamente como em meus mais gananciosos delírios, e então eu finalmente saberia como é poder segurar-te forte junto à mim, sentir teus lábios junto aos meus numa dança aleatória, mas precisa. E por um momento sentir como se nada mais importasse, entrando num estado de consciência alternativo onde só houvesse você, e o mundo exterior fosse apenas um borrão sem sentido, sem importância, como um canal mal sintonizado.

Também seguraria tua mão, a todo momento para sentir-lhe mais próximo, mais conectado, e a cada vez que tivesse que soltá-la sentiria sua ausência, como uma criança mimada querendo colo. Sentiria tua pele quente junto a minha como se você fosse uma extensão de mim mesmo, da qual eu sempre estaria consciente.

Inebriar-me-ia no teu cheiro, para tentar compensar todos os momentos que senti falta de senti-lo, mas nunca seria o suficiente, nunca o bastante...

E eu simplesmente ficaria em silêncio junto à ti  e seria maravilhoso, e nós riríamos e nos beijaríamos, e ainda que fosse apenas por momentos, duraria a eternidade, e ainda que fosse pela eternidade, duraria apenas momentos.



Carlos Bernardo

domingo, 22 de abril de 2012

Algumas vezes o melhor é deixar fluir...



E as vezes nós conhecemos pessoas simplesmente maravilhosas, que nos fazem felizes só por estar com elas, mesmo nas situações mais inusitadas. Conhecer uma pessoa com esse nível de afinidade inicial é sempre um evento marcante e feliz, essas pessoas roubam nossos corações, nas mais diversas conotações do termo.

Mas sapatos de cristal sempre se perdem. E é aí que vemos as pessoas excepcionais que conhecemos se transformarem diante de nossos olhos.

Algumas vezes essa mudança vem da própria essência da pessoa e é duro ter de lidar com isso, mas é ainda pior quando ao invés disso vemos a pessoa mudar por influências externas. Parece até que é de propósito, de caso pensado, mas essas pessoas sempre são influenciadas por tudo que pode nos desagradar.

E algumas vezes temos de ver essas pessoas prejudicarem, ferirem, perderem a si mesmas sem poder fazer nada. Somos obrigados a ver a pessoa se transformar em algo nocivo a si próprio em silêncio, porque elas não nos escutam, não abrem os olhos para toda situação que lhes envolve.

Bem, eu queria ter uma solução, qualquer que fosse, para isso, mas eu não tenho. Algumas vezes o melhor é deixar fluir, deixar que cada um siga seu caminhos naturalmente, sendo este caminho junto ao nosso ou não. A gente sempre espera em algum nível de consciência que essa pessoa um dia enxergue o quão perdida de si própria está e volte ao eixo, mas esperanças são só esperanças, e temos de nos conformar que essa pessoa já não É mais como antes.

Perder a própria essência pode ser considerado uma morte, ainda que simbólica, e mortos não voltam. Só nos resta aceitar, ainda que nunca venhamos à entender.



quinta-feira, 19 de abril de 2012

E o tempo vai, e leva consigo a única chance de viver...


Sempre o mesmo cárcere, sempre a mesma inércia psíquica. Nunca um raio de sol no meio das trevas sem fim em que vivem aqueles sem esperança.

Dos males da vida o pior de todos é perder a esperança, é ver as trevas e a dor em cada canto que se olhe. E ainda pior é impor esse pré-sofrimento sem fim aos outros. É como ver a morte com a cara colada na janela, esperando. 

Enquanto o tempo prossegue invariável e inabalavelmente levando consigo as alegrias não vividas, e os  prazerosos momentos sufocados por essa segurança falsa contra um suposto perigo remoto.

Viver vai muito além de sobreviver. Não há viver sem memórias inesquecíveis, sem saudades de momentos eternos, sem a experiência do erro queimando nossa face envergonhada. Porque sobreviver é o que fazemos instintivamente desde que ponhamos a cara para fora do útero, mas viver é uma escolha; é escolher ver além  e nunca desistir, nunca desistir de ser feliz.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Lidando com estereótipos



Todo mundo já estereotipou alguém ou algum grupo, mas ninguém gosta de ser estereotipado, por que ser estereotipado é uma merda. Simples assim. 

O estereótipo encarcera, limita, cerceia. Ele impede as pessoas de serem livres. Ser estereotipado é estar preso pelas amarras ideológicas de outra pessoa.

A maioria de nós, em determinado momento, quer se livrar dos estereótipos aos quais somos submetidos. Mas muitas vezes essas tentativas levam  a atitudes de exclusão, exclusão daquele que por natureza se adéqua ao estereótipo.

Lutar contra o estereótipo deve ser lutar pela liberdade de ser, liberdade de existir, mesmo que essa liberdade esteja retratada nos estereótipos.


terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Todo adulto gay foi uma criança gay

 Texto originalmente publicado no blog "Minoria é a Mãe":               



ideia inicial era postar alguns trechos dos textos abaixo e comentá-los, mas acho que Amelia (nome fictício), a mãe do menino de seis anos apaixonado pelo Blaine de Glee, falou por si só, especialmente no terceiro texto. Então, hoje só teremos uma tradução aqui no Minoria é a Mãe. Os comentários eu deixo pra vocês.










                                             Meu filho mais velho tem seis anos e está apaixonado pela primeira vez. Ele está apaixonado pelo Blaine de Glee.

Para quem não sabe, Blaine é um garoto… um garoto gay, namorado de um dos personagens principais, Kurt.

Não é um amor do tipo “ele acha o Blaine muito maneiro”. É do tipo de amor em que ele devaneia olhando para uma foto de Blaine por meia hora seguido por um ávido “ele é tão lindo”.

Ele adora o episódio em que os dois meninos se beijam. Meu filho chama as pessoas que estão em outros cômodos pra ter certeza de que não perderão "sua parte favorita”. Ele volta o video e assiste de novo… e obriga os outros a fazerem o mesmo, se achar que as pessoas não prestaram atenção suficiente.

Essa obsessão não preocupa a mim e a seu pai. Nós vivemos em uma vizinhança liberal, muitos de nossas amigos são gays e a ideia de ter um filho gay não é algo que nos preocupa. Nosso filho vai ser quem ele é, e amá-lo é nosso dever. Ponto final.

E também, ele tem seis anos. Crianças nessa idade ficam obcecadas com todo tipo de coisa. Isso pode não significar nada. Nós sempre brincamos que ou ele é gay ou nós temos a melhor chantagem na história da humanidade quando ele tiver 16 anos e for hétero. (Toma essa, fotos tomanho banho.)

E então, dia desses estávamos viajando para outra cidade ouvindo (é claro) o CD dos Warblers, e no meio da música Candles, meu filho, do banco de trás, fala:

“Mamãe, Kurt e Blaine são namorados.”
“São sim,” eu confirmo.
"Eles não gostam de beijar meninas. Eles só beijam meninos.”
“É verdade.”
“Mamãe, eles são iguais a mim.”
“Isso é ótimo, querido. Você sabe que eu te amo de qualquer forma?”
“Eu sei…” Eu podia ouví-lo rolando os olhos pra mim.

Quando chegamos em casa, eu contei da conversa para o pai dele, e nós simplesmente olhamos um nos olhos do outro por um momento. E então, sorrimos.

“Então se aos 16 anos ele quiser fazer o grande anúncio na mesa de jantar, poderemos dizer ‘Você disse isso pra gente quando tinha 6 anos. Passe as cenouras’ e ele ficará decepcionado por roubarmos o grande momento dramático dele’, meu marido diz rindo e me abraça.

Só o tempo dirá se meu filho é gay, mas se for, estou feliz que ele seja meu. Eu estou feliz que ele tenha nascido na nossa família. Uma família cheia de pessoas que o amarão e o aceitarão. Pessoas que jamais vão querer que ele mude. Com pais que não veem a hora de dançarem no casamento dele.

E eu tenho que admitir, Blaine seria realmente um genro fofo.  
(postado em 15/08/11, original aqui )

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 São duas e meia da manhã e eu estou olhando para a tela do computador. Dentro de cerca de quatro horas eu preciso estar acordada pra levar meu filho pra escola e ir pro trabalho. Ao invés disso, estou quebrando a cabeça tentando descobrir o que dizer para um adolescente cujos pais estão fazendo de sua vida um inferno.

Minha vida não foi sempre assim.

Eu escrevi o que eu achava que era uma pequena história fofa e inocente sobre meu filho mais velho e seu amor por um personagem de um programa popular de televisão, e como isso acabou o levando a me contar que ele queria beijar meninos e não meninas. Eu, ingenuamente, coloquei isso na Internet, pensando que talvez alguns fãs da série ou do ator achariam fofo também.

12 horas depois, essa história foi “curtida” e reblogada mais de 20 mil vez.
24 horas depois, foi colocada na página inicial do Out.com.
36 horas depois, Dan Savage estava blogando sobre ela.
48 depois, o Trevor Project posta sobre ela no Facebook.

Foi impressionante. Mais que isso, foi de quebrar o coração. Por causa de toda a exposição, vieram comentários e uma caixa de entrada cheia.

Eu consigo lidar com comentários negativos. Pessoas dizem que meu filho é muito novo para assistir à série. Que eu não deveria estar escrevendo sobre meu filho sendo ele tão novo. Que minhas piadas são ruins. Eu consigo olhar pra tudo isso imparcialmente e concordar que eles tem alguma razão (ainda que eu nem sempre concorde).

O que eu não consigo lidar é com centenas de pessoas dizendo que gostariam que eu fosse a mãe deles. Centenas de pessoas me dizendo que eu mereço prêmios. E, pior, pessoas dizendo que eu sou uma mãe perfeita.

Eu simplesmente não sou tão legal assim.

Eu me esforço pra ser uma boa mãe, mas eu não estou nem entre as 25 melhores mães que conheço. Eu sou aquela mãe que fala irritantemente alto. Eu nunca nem tentei ler um livro sobre bebês. Eu danço ska com meu marido no meio de lojas quando estou entediada e faço meus filhos desejarem morrer de tanta vergonha. E isso é só o começo.

Mas aí estão todas essas pessoas online dizendo quão boa eu sou. E o que eu fiz? Eu disse que amava meu filho incondicionalmente. Isso é algo tão raro que as pessoas precisam parar pra falar sobre? Eu não pensava assim, mas agora começo a me perguntar.

Porque a parte que realmente quebra meu coração são as mensagens na minha caixa de entrada. Aquelas que vêm de crianças cujos pais evidentemente falharam na parte mais importante de ser pai ou mãe: de fato amar seu filho. Os comentários são simples e devastadores, e quase sempre terminam da mesma forma: me agradecendo por amar meu próprio filho.

Eu respondo a todos, no escritório enquanto deveria estar trabalhando, e tarde da noite no sofá quando eu deveria ter ido dormir há horas. Não responder não é uma opção para mim. Eu preciso fazê-lo. Eu preciso que essas crianças saibam que eu li suas palavras. Que eles merecem o melhor. Que eles significam algo pra mim.

Não é tudo ruim. Um garoto de 14 anos me disse que acabou de sair do armário para os pais. Eu respondi parabenizando-o e perguntei como foi. E então eu sentei, ansiosa, esperando que ele respondesse, e ele apareceu um minuto depois dizendo que “tudo correu muito bem!”.

Mas infelizmente, os comentários que me fazem sorrir e rir são uma minoria. A maioria deles são como o que eu estou vendo nesse momento. Uma criança de coração partido que deseja desesperadamente que sua mãe pare de lhe dizer coisas horríveis. Um menino que deseja que sua mãe ainda o ame.

Eu vou achar alguma coisa pra dizer pra ele, mas eu sei que não vai ser o suficiente.

Eu quero viver em um mundo onde aquela histórinha boba que eu escrevi não tem nada de especial, é apenas uma bobagem sobre um garotinho e seu amor por um garoto de blazer.

(postado em agosto, original aqui )

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 No dia 16 de agosto eu aprendi o significado de “viral”.

Eu escrevi um texto sobre meu filho mais velho e seu amor por um popular personagem gay da televisão, o Blaine de Glee, e como sua paixonite o levou a me contar que ele queria beijar garotos e não garotas. Eu, ingenuamente, postei isso em meu blog, achando que alguns fãs da série achariam fofo.

Dentro de 24 horas ele havia sido repostado e “curtido” mais de 30 mil vezes no site do blog. Não demorou muito até que as mensagens começassem a lotar a caixa de entrada, outros sites começarem a postar e as pessoas a comentarem. A recepção pela esmagadora maioria foi positiva. O que eu pensei que era uma simples história sobre meu filho e minha família claramente tocou fundo em muitas pessoas.

Também deixou muitas pessoas desconfortáveis. Das críticas, a mais comum é que meu filho tem seis anos de idade e não sabe nada sobre sexo. Ainda que eu tenha certeza de que isso não diz nada de definitivo a respeito da orientação sexual do meu filho, eu rejeito a ideia de que ser gay diz respeito apenas a atos sexuais. Nossas emoções e sentimentos, nossas atrações e compulsões, tudo contribui, não apenas as partes do nosso corpo. Se meu filho estivesse apaixonado pela atriz principal de iCarly, eu duvido que as pessoas diriam que ele é muito jovem pra ter sentimentos sexuais por uma garota. Eu acredito que pensariam que é apenas uma paixonite inocente de menino, o que é exatamente o que isso é. Além disso, pra cada comentário que eu lia dizendo que meu filho era muito novo, havia vários outros de adultos dizendo “eu também sabia quando era pequeno”.

Isso tudo me fez pensar e depois de um tempo eu comcei a sentir como se eu soubesse um grande segredo que não deveria de maneira alguma ser um segredo: todo adulto gay foi uma criança gay. Não é como se todas as crianças começassem héteros até que algum tempo depois alguém ligasse o “botão gay”.

As palavras horríveis e cheias de ódio das Michelle Bachmann da vida são levadas a um novo nível de repugnância quando as imaginamos sendo gritadas a um grupo de crianças na pré-escola ou primeira série. Eles são anti-naturais. Eles são pecadores. Eles vão pro inferno. Eles são sujos, errados e doentes.

Essas pessoas diriam para o meu garotinho inocente (que no momento quer ser um bombeiro-ninja quando crescer) que ele é a maior ameaça existente para a família americana… porque ele quer beijar meninos e não meninas.

A realidade é que eles estão enfiando essas palavras de ignorância e ódio na cabeça de crianças gays todos os dias. E essas crianças estão ouvindo isso. Eu sei porque muitas dessas crianças agora estão me escrevendo. Crianças de 14 anos me mandaram mensagens. Tantas delas são crianças assustadas, que obviamente não escolheram isso pra si mesmas, vivendo com medo de que suas famílias descubram porque sabem o que seu pai e sua mãe vão dizer. E eles me dizem que gostariam que eu fosse a mãe deles.

Eu quero deixar toda essa conversa, todas essas mentiras, todo esse ódio, longe dessas crianças. Claro, há um problema inerente nisso. Nós não podemos saber quem são as crianças gays só de olhar, e comportamento não é um indicador preciso (algumas meninas héteros são “moleques” e alguns meninos gays adoram brincar de carrinho). A única maneira de saber a orientação sexual de alguém é a pessoa nos contando, o que para alguns não acontece até a vida adulta.

Então, a solução é óbvia pra mim. Manter isso longe de todas as nossas crianças. É minha responsabilidade como mãe, como ser humano, levantar e dizer “basta”. Não, você não pode dizer essas coisas na frente dos meus filhos, a menos que você queira lidar comigo. Porque eu não vou permitir que nenhum dos meus filhos seja maldosmente atacado sem que eu os defenda. Eles nunca terão que duvidar sequer por um segundo pelo quê seus pais lutam, e nunca terão que viver com medo de quem são.

Porque desde 16 de agosto, eu aprendi que ódio é o vírus com qual temos que nos preocupar.

(postado em 03/10/11, original aqui - ênfases minhas)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Uma fonte de felicidade quase invisível, mas necessária.

http://jenimal.deviantart.com/art/Cathy-and-Heathcliff-detail-111572522

"Meus maiores sofrimentos neste mundo têm sido os sofrimentos de Heathcliff; fui testemunha deles e senti-os todos, desde o começo.Meu maior cuidado na vida é ele. Se tudo desaparecesse e ele ficasse, eu continuaria a existir. E se tudo o mais ficasse, e ele fosse aniquilado, eu ficaria só num mundo estranho, incapaz de ter parte dele. Meu amor por Linton é como folhagem da mata: o tempo há de mudá-lo como o inverno muda as árvores, isso eu sei muito bem. E o meu amor por Heathcliff é como as rochas eternas que ficam debaixo do chão; uma fonte de felicidade quase invisível, mas necessária. Nelly, Eu sou Heathcliff. Sempre, sempre o tenho em meu pensamento. Não como um prazer, porque eu também não sou um prazer para mim própria, mas como o meu p´roprio ser. Portanto, não fale mais em separação: é impraticável"



(O Morro Dos Ventos Uivantes - Emily Brontë. pág. 78)