sábado, 7 de novembro de 2015

Agonia

Art by: Agnes Cecile.



Aos deuses eu peço que ouçam minhas preces, que suavizem a dor da minha alma e soprem novamente em meus pulmões o fôlego da vida, porque a cada dia eu desejo por paz, a cada dia eu desejo partir para o êxtase dionisíaco e nunca mais voltar, abandonar a razão, enlouquecer, quebrar completamente os laços com a realidade.

Será possível que existam pessoas que não estão preparadas para esse mundo? Será que todas as pessoas sentem a dor da forma que eu sinto, será que todos desejam dormir para sempre quando se deitam no travesseiro e se sentem fracos por não conseguirem por um fim a tudo e ao mesmo tempo se questionam, é isso que eu realmente quero?

Quero abraçar a inexistência como quem abraça o verdadeiro amor ou quero verdadeiro amor para abraçar a existência? Se eu já sinto o mundo como um abismo escuro não faria diferença se fechar a toda a luz, mas do outro lado não haveria chance de acender a luz e encontrar amor, e aqui? Existe essa possibilidade? Eu não sei se acredito nela, mas desejo.

Desejo a todo instante que alguém acenda a luz e me encontre nesse abismo que habito em vida, à sete palmos do chão, sem amor puro, sonhando com uma realidade que jamais conheci, sonhando que um dia alguém vai olhar pra MIM e ver de fato quem eu sou, e vai me amar pelo que eu sou e não por ideais sobrepostos em mim, ideais que me soterram e ameaçam me destruir, eles tomam meu ar todas manhãs e eu grito para que eles me enxerguem, mas eles não querem ver, eles amam seus ideais, eu sou só o invólucro deles, uma boneca sem essência pronta para servir de deposito, pronta para ser violentada e invadida, habitada por fantasmas que não existem, mas que me perseguem.

Pobre Nero está perdendo a cabeça, foi ele que incendiou roma ou foi Julio César? um fantasma poderia destruir uma vida? ou seriam ambos inocentes e o culpado escapa na calada da noite?

QUEM É O CULPADO? Gritam os cidadãos desesperados enquanto suas cabeças ardem, mas o culpado está oculto.

Sou eu Nero, É o fantasma? Ou o gato que se esgueira na calada? 

Mas que tolice, Nero, não vês tu que é arrogância pensar no mundo de outra forma,
 esta é sua realidade, abrace a tua família e aceite a misericórdia de uma vida não vivida, se seu coração bate, deves sorrir,
 como um fantoche.
Porque a matéria é a única coisa que importa, 
seu coração deve morrer, para que o seu sangue possa viver, 
por que o sangue traz peso,
 o cheiro de ferro que tem o sangue é equivalente ao peso que ele traz às veias,
 se quiser ser livre CORTE AS VEIAS, 
deixe ir o sangue que lhe foi dado com tanto zelo, 
libere os fantasmas de seu corpo, 
você os aprisiona com sua vida miserável,
 isto que bate em seu peito faz todos a sua volta sofrerem, 
pare o seu coração, mate a si mesmo ou mate o seu corpo.